terça-feira, 10 de maio de 2011

Dois homens brigam por autoria de crime


 
Eles afirmam que furtaram roupas em uma loja de Curvelo; um deles fugiu algemado durante acareação
Publicado no Super Notícia em 10/05/2011
GABRIELA SALES
falesuper@supernoticia.com.br

FOTO: CALAZANS/DIVULGAÇÃO
Polícia procura pelo Marcio Paulista fugitivo, na cidade de Curvelo
CALAZANS/DIVULGAÇÃO
Polícia procura pelo Marcio Paulista fugitivo, na cidade de Curvelo
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O refrão da música "Pega eu que eu sou ladrão", de Bezerra da Silva, cai como uma luva em uma história curiosa que aconteceu em Curvelo, na região Central do Estado, e que está dando trabalho à Justiça da cidade. Dois homens, que se apresentam como o mesmo nome, brigam para provar a autoria de um crime cometido há dois anos.
A dúvida só não foi esclarecida ontem durante uma audiência no fórum da cidade, porque um dos dois suspeitos que se apresentam como Márcio Paulista de Souza, mesmo algemado, pulou a janela e saiu em disparada pelas ruas da cidade.
Eles tinham sido colocados frente a frente para uma acareação e, até ontem à noite, a polícia vasculhava o município à procura do suspeito. Na cidade, a notícia da fuga do preso algemado ganhou as ruas. Entre os moradores, todos querem saber quem é o verdadeiro ladrão.
A confusão envolvendo os dois começou em julho do ano passado quando um deles foi preso na cidade de Monte Carmelo, no Alto Paranaíba, após uma briga em um bar. Ao checarem os dados pessoais, os policiais descobriram que o homem que se identificou como Márcio Paulista de Souza era procurado por ter furtado uma loja de roupas em Curvelo, um ano antes.
Na ocasião, o suposto Márcio Paulista não apresentou documentos, mas todos os dados que ele forneceu coincidam com a identidade do suspeito procurado em Curvelo.
Além da filiação, ele enumerou os nomes completos de todos os "irmãos".
A surpresa veio quando policiais civis de Curvelo avisaram aos colegas de Monte Carmelo que o verdadeiro Márcio Paulista de Souza já estava atrás das grades. O mal-entendido aumentava à medida que o suspeito preso em Monte Carmelo insistia que era o ladrão procurado.
Para provar sua versão, o Márcio Paulista de Monte Carmelo contou detalhes do crime e descreveu as roupas roubadas. "O preso de Monte Carmelo contou toda a sua história de vida e informou os dados dos irmãos. Tudo foi conferido e confirmado. Ficou difícil apontar qual era o falsário", explicou a escrivã Alexandra Lopes Feliciano.
Enquanto isso, na prisão em Curvelo, o outro Márcio Paulista contava a mesma história detalhada e também reivindicava a autoria do crime.
O exame de impressão digital que poderia por fim à confusão só aumentou o mistério. Os testes apontaram os dois como sendo Márcio Paulista de Souza. Novos exames foram pedidos, mas o resultado só sai em 30 dias.
VitóriaAté lá, como pleiteia, o homem preso em Monte Carmelo ganhou o posto de verdadeiro Márcio Paulista, acusados do roubo, já que o rival de Curvelo está desaparecido.
Crimes
A pena para quem comete o crime de falsidade ideológica é de um a cinco anos de pisão, além de multa estipulada pela Justiça. A penalidade também pode ser somada com o furto, que varia de um a quatro anos. A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que não irá comentar o caso enquanto não sair o resultado do novo exame das digitais.
Fugitivo pode ser o falsário
A polícia suspeita que o homem preso em Curvelo, mesmo apresentando todos os documentos que o identificam como Márcio Paulista de Souza, seja o falsário. Segundo a escrivã Alexandre Lopes Feliciano, que acompanha o caso em Curvelo, ao que tudo indica o homem que agora fugiu pleiteou a identidade falsa porque, na verdade, cometeu um crime ainda mais grave e está tentando esconder a verdadeira identidade. Registros do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) apontam que Márcio Paulista de Souza, de 29 anos, natural de Pirapora, responde a pelo menos oito processos criminais, que vão desde furto até sequestro seguido de tentativa de homicídio.
PiadaEm Curvelo, o caso já virou motivo de piada. "Eu nunca vi em toda minha vida uma pessoa brigar para assumir um crime. Geralmente, eles querem é fugir", disse o aposentado Agnaldo Rosa, de 73 anos. Já para a assistente social Marta Almeida, o caso deve ser tratado com cautela, principalmente se as identificações dos homens tiverem sido adulteradas. "Caso o verdadeiro Márcio Paulista nunca tenha tirado uma carteira de identidade e o falsário aproveitou da situação ficará difícil comprovar qual deles está mentindo. Isso pode resultar na condenação de um inocente".
MINIENTREVISTA
"O falso Márcio está fugindo de um crime mais grave"
Alexandra Feliciano Escrivã de Curvelo
Casos como esse já foram registrados? Sempre nos deparamos com falsidade ideológica. Há casos em que o suspeito assume a identidade de outra pessoa para tentar escapar da prisão e até mesmo da condenação de um crime mais grave. Nesses casos, o que é feito? Nós realizamos o cruzamento de dados e, quando necessário, realizamos um exame de digitais que é encaminhado para o Instituto de Identificação, que fica em Belo Horizonte. Através desse exame, não há como não identificar a falsificação.
O que acontece quando é identificada a falsificação ideológica de um suspeito? Checamos a verdadeira identidade e assim temos acesso aos verdadeiros crimes cometidos pelo suspeito. Além deles, será adicionado o crime de falsificação de identidade.
Nesse caso, a senhora acredita que houve uma falsidade ideológica? Não há dúvida disso, o mistério está em saber qual deles está mentindo. Um tem a seu favor toda a documentação. Já o outro possui relatos muito convincentes de como perdeu essa documentação, além de uma história de vida que até o momento possui algum tipo de sentido. Somente o resultado da perícia poderá apontar o verdadeiro. O que pode acontecer com o falsário? Ele, com certeza, responderá por mais esse crime. Acredito que o falso Márcio esteja fugindo de um crime muito pior. (GS)

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